terça-feira, 1 de outubro de 2019

Há uma dor bem aqui...



...
Tentei afastá-la por tanto tempo, mas decidi deixá-la ficar, recebê-la com um certo respeito, carinho, talvez...

Quem sabe essa dor tenha sido a personificação de uma família, já que essa dor já existia antes de mim, e desde então nunca me deixou.

Quero que ela venha, inteira para que eu possa me completar. Não a nego mais!
Que venha a minha parte e traga as memórias, o orgulho, o amor ferido, a espera eterna.

Seja bem-vinda, minha dor. Perdão porque tentei afastar-te, em vão.
Perdão por ter sufocado-te, por ter tentado até matar-te, por ter provocado  perder-te na vida.

Lembra quando eu laguei-te por entre a muldidão?
E ao chegar em casa... a indesejada presença.

Sempre parece chegar antes de mim, como uma mãe que abnega-se de si para  seguir-me.

Cansei...

Vem cá, minha dor, se apoie nos meus ombros e chore, se quiser. Mas me perdoe a injustiça de ter buscado a cura para você.
Busquei nos amores que tive, nos laços do cotidiano, no cantos e caixas e músicas e nas histórias que contei - e que conto agora.

Acabei por encontrar mais de você no meu caminho: 
sempre abrindo meus olhos, arrancando falsas raízes, me levando a percepções inimagináveis, destruindo e destituindo e reconstruindo e reencontrando. No profundo gerúndio da vida.

Graças a você, minha bela dor, eu estou aqui te reconhecendo. Vem cá, me ensinar a ser feliz e melhor do antes, novamente.



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