terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Do dicionário da vida: angústia




Consome!
É uma sensação inominável. 

É uma combustão que deveria se esvair em fumaça. Mas sufoca, se guarda.
É uma força fraca, é uma dor que não dói. É uma sensação de nada - que me gasta.
É um não querer mover-me.
É um querer de amparo.
É algo que mora dentro, mas não conversa.
É  um nao dizer-se de mim.
É um fugir-se de mim.
É um silêncio que se contorce.
É um peso no peito, um querer desistir.
É uma espera do inexistente.
Uma explicação que se cala.


 

Imagem: http://www.pavablog.com/2013/10/13/angustia/


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

| Dimensões da língua: variação e mudança |




De um número de códigos, regras gramaticais, palavras e sons finitos da língua, produzimos infinitas formas de enunciados . Calcula-se que o português do Brasil possua algo em torno de meio milhão de palavras e que a quantidade de sons não ultrapasse a trinta. Parece pouco? Mas a língua não se esgota em sua estrutura. Para termos uma noção do universo linguístico devemos considerar seu uso, seu funcionamento social e cultural. Afinal, a língua representa nossa realidade e nossa subjetividade. Dizemos o que somos, conseguimos nos descrever, opinar… Somos também como dizemos isso. Possuímos marcas linguísticas individuais e as que marcam nossa comunidade, nossa escolaridade, nossa cultura.

As línguas se multiplicam em inúmeras variedades geográficas, sociais e estilísticas. Nenhum sistema linguístico é uniforme e estanque. As diferenças no Brasil, por exemplo, são enormes, a ponto de causar dificuldade de compreensão, principalmente no significado de expressões entre regiões. Mesmo em países com dimensões geográficas menores, como a Espanha, mas culturalmente diverso, fruto de sua história. Possui comunidades autônomas, outras línguas e dialetos incríveis!

A verdade é que mesmo numa única comunidade ninguém fala e escreve igual.

Há vários recursos como a ironia, uso figurado, metáforas, comparações… Que dentro de um determinado contexto todo o sentido pode ser alterado. É uma variação “além dialetal”.

Impossível capturar todas as formas possíveis de combinações. Seria preciso prever o pensamento, os sentimentos e a intenção das pessoas. A língua dá forma a nossa realidade, nossa subjetividade e significa o mundo para nós em situações de interação - impensáveis.

Ao abraçar nossas necessidades neste espaço, se tornando um sistema complexo, o encontro de variedades provoca mudanças na estrutura da língua. As diferentes maneiras de expressar se reconfiguram em novas regras. (Isso. Aquelas regras) Ou seja, nem a língua padrão escapa da mudança. Seu estudo deveria ser indissociável do sentido e da intenção de comunicação. Além disso, é imprescindível que exista para se manter uma relativa unidade diante das variações.

A dimensão sociocultural e gramatical da língua possuem seus respectivos enfoques e importâncias. A questão é que, muitas vezes, o hábito de criticar os falares alheios considera a íngua de modo inflexível e rígido. Existe o que é convencionalmente adequado para determinadas situações de fala e escrita. A língua é bela e flexível. Mas não é tarefa simples.

Abraço!


 Ana Valeria Carvalheira
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Apaixonada por letras, pessoas e café! 



Referência: A estrutura da língua portuguesa - por Carlos Faraco.
Fonte imagem: http://www.anteloeduca.com.br/blog/category/ead/

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

| APENAS UM MUNDO | Rafael Cadenas - poeta venezuelano



Rafael Cadenas nació en abril de 1930. Fue uno de los fundadores del grupo y la revista Tabla Redonda (1959-1963).A partir de 1963, la fama de Rafael Cadenas se extendió por toda Latinoamérica tras la publicación de “Derrota”.


Ganó el Premio Nacional de Ensayo (1984), el Premio Nacional de Literatura (1985), el Premio San Juan de la Cruz y el Premio Internacional de Poesía J. A. Pérez Bonalde (1992), así como una beca de la Fundación Guggenheim (1986). También le fue otorgado en México el Premio FIL de Literatura en Lenguas Romances, antes llamado Juan Rulfo.

Las paces

Lleguemos a un acuerdo, poema.
Ya no te forzaré a decir lo que no quieres
ni tú te resistirás tanto a lo que deseo.
Hemos forcejeado mucho.
¿Para qué este empeño en hacerte a mi imagen
cuando sabes cosas que no sospecho?
Líbrate ya de mí.
Huye sin mirar atrás.
Sálvate antes de que sea tarde.
Pues siempre me rebasas,
sabes decir lo que te impulsa
y yo no,
porque eres más que tú mismo
y yo sólo soy el que trata de reconocerse en ti.
Tengo la extensión de mi deseo
y tú no tienes ninguno,
sólo avanzas hacia donde te diriges
sin mirar la mano que mueves
y te cree suyo cuando te siente brotar de ella
como una sustancia
que se erige.
Imponle tu curso al que escribe, él
sólo sabe ocultarse,
cubrir la novedad,
empobrecerse.
Lo que muestra es una reiteración
cansada.
Poema,
apártate de mí. 




|APENAS UM MUNDO| Gabriel Garcia Márquez - Colômbia


Gabriel Garcia Márquez (1927 – 2014)
Importante escritor de contos, novelista, jornalista e ativista político colombiano. 
É considerado pela crítica literário mundial como sendo um dos mais importantes escritores do século XX. Em 1982, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, pelo conjunto de sua obra. A obra mais popular de Garcia Márquez é "Cem anos de solidão", na qual o autor mistura o épico com o realismo fantástico.



"Tercera presencia del amor"

Este amor que ha venido de repente
y sabe la razón de la hermosura.
Este amor, amorosa vestidura,
ceñida al corazón exactamente.
Este amor que es harina
que es infancia de sueños en la frente,
que es líquido de música en la frente
y es lucero nostálgico en la altura.
Este amor que es el verso y es la rosa.
Y es saber que la vida en cada cosa
se nos repite cada vez más fuerte.
Tan eterno este amor tan resistible,
que comparado al tiempo imposible
saber donde limita con la muerte.

| APENAS UM MUNDO | Kateb Yacine - da Argélia


Quer conhecer um pouco alguns escritores do mundo?
Acompanhe a série de postagens  | Apenas um mundo | - cada dia um escritor diferente de um país que parece distante...Um pouco de sua biografia e uma obra diária.
A poesia é uma linguagem soberana capaz de unir pessoas.



Poema Argeliano de KATEB YACINE (1929-1989) escrito originalmente em francês (uma das línguas oficiais da Argélia - país do Norte da África) e traduzido para o português por Noureddine Mesouter, também argeliano, para tentarmos compreender um pouco da sensibilidade artística.
Perdão por qualquer equívoco de sentido.  


*Bom dia*
Bom dia minha vida
E você meus desesperos.
Aqui estou em as valas
onde nasce minha miséria!
Você meu velho má sorte,
Eu trago-lhe um pouco de coração
bom dia, a voces todos
bom dia meus velhos amigos;Eu estarei de volta com a minha face de Paladino solitário,
E eu sei que esta noite subiriam cancoes infernais
Aqui é o canto da lama Onde dormia minha testa orgulhosa,
Aos uivos dos ventos,
Pelos gritos de Dezembro;
Esta é a minha vida,
Acumulada em poeira...
bom dia, todas minhas coisas,
Segui o pássaro dos trópicos ,aos Caminhadas sublimes
E aqui eu estou sangrenta Com contusões
Dentro do meu coração em rictus! ...
Bom Dia meus pesados horizontes
Minhas velhas vacas quimeras
Assim, floresce la esperança
E meu jardim podre!
- Ridicula Tortuga
Eu Abri o bico
Para cair sobre uma árvore do espinho
Bom dia meus poemas sem razão ...
Kateb Yacine 1929 - 1989