Proposta para Produção textual - Ensino fundamental.
A seguir uma Ficha de Estudo para ser trabalhada com os alunos ou com quem desejar aprender mais sobre o artigo de opinião.
Não segue o padrão de um Plano de Aula, mas de uma sequência didática, em 4 etapas, que pode ser adaptado às necessidades de cada contexto de ensino. 😃
1- Reflexões iniciais:
• Você já teve que apiniar, argumentar ou discutir sobre algum assunto com seus amigos ou com sua família?
• Procure num dicionário as diferenças entre opiniar, argumentar e discutir.
• Sabem o nome de algum outro texto (oral ou escrito) em que é preciso saber emitir a opinião?
Exemplos: debate, comentário, assembleia (orais). artigo de opinião, editorial, charge (escritos ou multimodais).
• Já leram um artigo de opinião?
• Onde ele é publicado?
• Qual será a função desse tipo de texto?
• Qua assuntos podem ser abordado num artigo de opinião?
Os artigos de opinião nasceram e subsistem na imprensa escrita, que tem por objetivo não só informar os leitores por meio de notícias, mas também colaborar para análise e discussão da realidade.
Para escrever um artigo de opinião será preciso que o ealuno posicione-se explicitamente em relação a uma questão polêmica, de interesse público: são questões que intereferem na vida das pessoas - e não de interesse do público – preferências subjetivas; pessoais.
Para tanto, será necessário:
• formulá-la claramente;
• tomar conhecimento do que já foi abordado sobre o assunto;
• inserir a questão na história e no contexto do debate;
• incorporar a posição de outras pessoas (seja para concordar, seja para discordar);
• e, fundamentalmente, argumentar, ou seja, justificar a própria opinião com fatos, dados, exemplos, afirmações, considerações, citações de opiniões de especialistas etc.
2- Leia o artigo de opinião abaixo.
As palavras em destaque descrevem aspectos bem pertinentes analisados por uma comissão julgadora. Esse foi um artigo que recebeu medalha de ouro no concurso Olimpíada de Língua Portuguesa, promovida pela equipe do Escrevendo o Futuro.
“Também, olha a roupa dela
Não existe apenas a cultura do estupro no
Brasil. Existe, sobretudo, a cultura do machismo, e o estupro, no que
lhe concerne, é uma consequência disso.
O que é cultural aqui é o fato
de a mulher, na maioria dos casos, levar a culpa por ter sido
violentada. Frases como “também, olha a roupa dela” ou “mexia
com coisa errada, ela mereceu”, elucidam a tendência da sociedade
de idealizar a mulher, seja para transformá-la numa dama “bela,
recatada e do lar”, imagem veiculada pela revista Veja, seja para
sexualizá-la com músicas que dizem “Dei todo amor, tratei como
flor, mas no fim era uma trepadeira”, do cantor Emicida. A postura
da mulher como justificativa para a violência é expressão de uma
cultura machista que deve ser combatida, por meio do resgate da luta
pela igualdade de gênero.
O problema é que “o homem é definido
como ser humano e a mulher, como fêmea”, a declaração de Simone
de Beauvoir abre nossos olhos para o fato de que entre aqueles que
escreveram sobre a natureza humana, a maioria eram homens; esses, por
sua vez, estabeleceram a masculinidade como padrão, e definiram as
mulheres como a diferença de tal padrão. Visão que permanece na
sociedade, alimenta o machismo e não só possibilita, como
naturaliza a violência contra a mulher.
Realmente, achamos normal uma mulher ser
constrangida por uma cantada ou por estar sozinha à noite; ser
estuprada por estar bêbada ou usando roupas curtas – “tava
pedindo” -; ser forçada a fazer sexo com o companheiro ou
intimidada por homens heterossexuais quando é homossexual – “tem
que aprender a gostar”. Por outro lado, achamos absurdo os índices
de estupro que crescem vertiginosamente, quando são apenas reflexo
de nossas próprias atitudes do cotidiano. Até porque é mais fácil
disseminar mais um discurso de ódio contra a cultura do estupro que
mexer na ferida da herança patriarcal e dos costumes machistas.
Os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública são obscenos.
São mais de meio milhão de mulheres violentadas por ano. Mulheres
que nunca mais serão as mesmas. Mulheres do nosso país, da nossa
cidade, do nosso bairro, da nossa casa; um dia, talvez, nós, eu,
você, quem sabe? Brazlândia,
nesse contexto, apresenta inúmeros casos de violação dos direitos
das mulheres. Na minha escola, uma menina do 1o. ano foi abusada pelo
avô, engravidou e vai ficar com a criança. Primeiro o abuso
familiar, que assombra nossa comunidade. Segundo, a imposição da
família, a garota, que tinha o direito de escolha, foi obrigada a
continuar com a gravidez. Por fim, o fato de suas amigas terem lhe
dado um chá de fraldas, como se isso tudo fosse normal, como se
estivesse tudo bem, como se a violência estivesse sendo
legitimada.
Não existe apenas a cultura do estupro no
Brasil. Existe, principalmente, a cultura do machismo e da negação,
que devemos combater veementemente, por meio de uma postura rígida
do Judiciário e da mudança na mentalidade social.
A primeira será alcançada com uma revisão na aplicabilidade das
leis, para acabar com a impunidade dos agressores. A segunda requer o
envolvimento de toda a sociedade, e principalmente da mídia pautada
na sexualização da mulher. Programas com dançarinas seminuas,
novelas em que o machismo é escancarado, propagandas que transformam
mulheres em produtos devem buscar outros mecanismos de difusão que
respeitem a figura da mulher. A família deve sempre buscar o diálogo
já que muitos abusos ocorrem em casa. E se o diálogo em casa não
vigorar, cabe também à escola amparar as vítimas de abuso, com a
assistência de psicólogos. Assim, será possível diminuir os
índices de casos de estupro em poucos anos, e estabelecer a
essencial igualdade de gênero.
Aluna:
Ana K. A. A. Professora: Mayssara. Escola: CED 03 de Brazlândia –
Brasília (DF)
Comentários das palavras destacadas no artigo:
dela
- Observe
como o título instiga o leitor! É criativo, mobiliza a atenção e
desperta o interesse em descobrir de que forma essa expressão entre
aspas - reprodução de uma fala recorrente na sociedade - será
tratada no texto.
disso
-
Logo
de início, temos a apresentação da tese, ou seja, a aluna-autora
convoca o leitor para a questão da cultura do machismo e a relação
com a cultura do estupro.
gênero
-
Aqui,
temos o ponto de partida para a polêmica em torno da culpabilização
da mulher pela violência sofrida por ela.
mulher
- Aqui, um argumento de autoridade captura a atenção do leitor,
convocando-o a pensar sobre como o pensamento de que a mulher é "a
diferença de padrão" corrobora o machismo e a violência na
nossa sociedade.
machistas
- Recorrendo novamente a expressões cotidianas - endereçadas à
mulher e que reafirmam a naturalização da violência e a cultura do
machismo -, a aluna-autora aponta para o que se considera “normal”
e “absurdo” (oposição construída pelos argumentos por
comparação/analogia).
obscenos -
Agora, o leitor é apresentado a dados, que, de forma contundente,
reafirmam o posicionamento defendido pela aluna-autora.
Nesse
sentido, o argumento por evidência foi apresentado de modo preciso,
ganhando ainda mais força pelo uso do termo ”obscenos” (que
também explicita a opinião da autora).
Brazlândia - Observe
a relação proposta para o enquadre: do geral para o local; para o
“o lugar onde eu vivo” (tema do Concurso).
legitimada
-Veja que a argumentação pela exemplificação provoca a análise
do leitor não apenas na direção da violência espalhada
genericamente pela cidade, mas na comunidade e, especialmente, dentro
das famílias da sua cidade. Assim, a aluna-autora evidencia a
urgência de um posicionamento de todas as pessoas (inclusive, das
próprias mulheres, colegas de escola), com vistas à revisão de
ações que negam – pela naturalização - e legitimam a violência.
social -
Agora, já na reta final do texto, a aluna-autora reproduz a tese
apresentada no início do texto para não apenas reafirmá-la, mas
ampliá-la, diante da diversidade e densidade dos argumentos.
Essa
retomada assertiva abre caminho para a apresentação de ações
propositivas (orientação típica de exames, como o ENEM), capazes
de redimensionar a realidade.
Aluna: Ana K. A. A. Professora: Mayssara. Escola: CED 03 de Brazlândia – Brasília (DF)
3- Atividades de pesquisa:
Agora que você conhece um pouco mais sobre o artigo de opinião, pesquise um artigo num jornal impresso ou digital e preencha a tabela abaixo. Você pode "recortar", aumentar e imprimir:
(Imagem: Revista Nova Escola)
4- Leitura conceitual:
Afinal, o que é um artigo de opinião?
O gênero artigo de opinião, é um texto predominantemente argumentativo que circula principalmente em jornais ou revistas (impressos ou eletrônicos). O objetivo desse tipo de texto é convencer alguém a respeito de um tema polêmico e de relevância social. Ele difere-se, por exemplo, do editorial, pois este retrata um ponto de vista e/ou reflexão do editor como representante do jornal/revista, já o artigo reflete a ideia/opinião do próprio autor.
É um texto assinado que apresenta assinatura/identificação/autoria de quem escreveu, normalmente acompanhada da fotografia do autor. Além disso, há informações do autor a respeito de suas qualificações pessoais como a formação acadêmica e atuação profissional, as quais são importantes para dar credibilidade ao texto e ajudam a convencer o leitor sobre um dado ponto de vista a respeito de um assunto mostrando que a pessoa que está escrevendo tem certo entendimento a respeito do tema.
(Definição: Revista Nova Escola)
Referências
https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3264/o-que-e-um-artigo-de-opiniao
https://www.escrevendoofuturo.org.br/