quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Ficha de estudo: o artigo de opinião


Proposta para Produção textual - Ensino fundamental.

A seguir uma Ficha de Estudo para ser trabalhada com os alunos ou com quem desejar aprender mais sobre o artigo de opinião.
Não segue o padrão de um Plano de Aula, mas de uma sequência didática, em 4 etapas, que pode ser adaptado às necessidades de cada contexto de ensino. 😃

1-  Reflexões iniciais:

    • Você já teve que apiniar, argumentar ou discutir sobre algum assunto com seus amigos ou com sua família?
    • Procure num dicionário as diferenças entre opiniar, argumentar  e discutir. 
    • Sabem o nome de algum outro texto (oral ou escrito) em que é preciso saber emitir a opinião?
       Exemplos: debate, comentário, assembleia (orais). artigo de opinião, editorial, charge (escritos ou multimodais).
    • Já leram um artigo de opinião?
    • Onde ele é publicado?
    • Qual será a função desse tipo de texto?
    • Qua assuntos podem ser abordado num artigo de opinião?
     
Os artigos de opinião nasceram e subsistem na imprensa escrita, que tem por objetivo não só informar os leitores por meio de notícias, mas também colaborar para análise e discussão da realidade.
    Para escrever um artigo de opinião será preciso que o ealuno posicione-se explicitamente em relação a uma questão polêmica, de interesse público: são questões que intereferem na vida das pessoas -  e não de interesse do público – preferências subjetivas; pessoais.
Para tanto, será necessário:

    • formulá-la claramente;
    • tomar conhecimento do que já foi abordado sobre o assunto;
    • inserir a questão na história e no contexto do debate;
    • incorporar a posição de outras pessoas (seja para concordar, seja para discordar);
    • e, fundamentalmente, argumentar, ou seja, justificar a própria opinião com fatos, dados, exemplos, afirmações, considerações, citações de opiniões de especialistas etc.


2- Leia o artigo de opinião abaixo.


    As palavras em destaque descrevem aspectos bem pertinentes  analisados por uma comissão julgadora. Esse foi um artigo que recebeu medalha de ouro no concurso Olimpíada de Língua Portuguesa, promovida pela equipe do Escrevendo o Futuro.


“Também, olha a roupa dela
   
 
Não existe apenas a cultura do estupro no Brasil. Existe, sobretudo, a cultura do machismo, e o estupro, no que lhe concerne, é uma consequência disso. O que é cultural aqui é o fato de a mulher, na maioria dos casos, levar a culpa por ter sido violentada. Frases como “também, olha a roupa dela” ou “mexia com coisa errada, ela mereceu”, elucidam a tendência da sociedade de idealizar a mulher, seja para transformá-la numa dama “bela, recatada e do lar”, imagem veiculada pela revista Veja, seja para sexualizá-la com músicas que dizem “Dei todo amor, tratei como flor, mas no fim era uma trepadeira”, do cantor Emicida. A postura da mulher como justificativa para a violência é expressão de uma cultura machista que deve ser combatida, por meio do resgate da luta pela igualdade de gênero.
O problema é que “o homem é definido como ser humano e a mulher, como fêmea”, a declaração de Simone de Beauvoir abre nossos olhos para o fato de que entre aqueles que escreveram sobre a natureza humana, a maioria eram homens; esses, por sua vez, estabeleceram a masculinidade como padrão, e definiram as mulheres como a diferença de tal padrão. Visão que permanece na sociedade, alimenta o machismo e não só possibilita, como naturaliza a violência contra a mulher.
Realmente, achamos normal uma mulher ser constrangida por uma cantada ou por estar sozinha à noite; ser estuprada por estar bêbada ou usando roupas curtas – “tava pedindo” -; ser forçada a fazer sexo com o companheiro ou intimidada por homens heterossexuais quando é homossexual – “tem que aprender a gostar”. Por outro lado, achamos absurdo os índices de estupro que crescem vertiginosamente, quando são apenas reflexo de nossas próprias atitudes do cotidiano. Até porque é mais fácil disseminar mais um discurso de ódio contra a cultura do estupro que mexer na ferida da herança patriarcal e dos costumes machistas.
Os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública são obscenos. São mais de meio milhão de mulheres violentadas por ano. Mulheres que nunca mais serão as mesmas. Mulheres do nosso país, da nossa cidade, do nosso bairro, da nossa casa; um dia, talvez, nós, eu, você, quem sabe? Brazlândia, nesse contexto, apresenta inúmeros casos de violação dos direitos das mulheres. Na minha escola, uma menina do 1o. ano foi abusada pelo avô, engravidou e vai ficar com a criança. Primeiro o abuso familiar, que assombra nossa comunidade. Segundo, a imposição da família, a garota, que tinha o direito de escolha, foi obrigada a continuar com a gravidez. Por fim, o fato de suas amigas terem lhe dado um chá de fraldas, como se isso tudo fosse normal, como se estivesse tudo bem, como se a violência estivesse sendo legitimada.
Não existe apenas a cultura do estupro no Brasil. Existe, principalmente, a cultura do machismo e da negação, que devemos combater veementemente, por meio de uma postura rígida do Judiciário e da mudança na mentalidade social. A primeira será alcançada com uma revisão na aplicabilidade das leis, para acabar com a impunidade dos agressores. A segunda requer o envolvimento de toda a sociedade, e principalmente da mídia pautada na sexualização da mulher. Programas com dançarinas seminuas, novelas em que o machismo é escancarado, propagandas que transformam mulheres em produtos devem buscar outros mecanismos de difusão que respeitem a figura da mulher. A família deve sempre buscar o diálogo já que muitos abusos ocorrem em casa. E se o diálogo em casa não vigorar, cabe também à escola amparar as vítimas de abuso, com a assistência de psicólogos. Assim, será possível diminuir os índices de casos de estupro em poucos anos, e estabelecer a essencial igualdade de gênero.


Aluna: Ana K. A. A. Professora: Mayssara. Escola: CED 03 de Brazlândia – Brasília (DF)

 Comentários das palavras destacadas no artigo:

dela - Observe como o título instiga o leitor! É criativo, mobiliza a atenção e desperta o interesse em descobrir de que forma essa expressão entre aspas - reprodução de uma fala recorrente na sociedade - será tratada no texto.


disso - Logo de início, temos a apresentação da tese, ou seja, a aluna-autora convoca o leitor para a questão da cultura do machismo e a relação com a cultura do estupro.
gênero - Aqui, temos o ponto de partida para a polêmica em torno da culpabilização da mulher pela violência sofrida por ela.


mulher - Aqui, um argumento de autoridade captura a atenção do leitor, convocando-o a pensar sobre como o pensamento de que a mulher é "a diferença de padrão" corrobora o machismo e a violência na nossa sociedade.


machistas - Recorrendo novamente a expressões cotidianas - endereçadas à mulher e que reafirmam a naturalização da violência e a cultura do machismo -, a aluna-autora aponta para o que se considera “normal” e “absurdo” (oposição construída pelos argumentos por comparação/analogia).


obscenos - Agora, o leitor é apresentado a dados, que, de forma contundente, reafirmam o posicionamento defendido pela aluna-autora.
Nesse sentido, o argumento por evidência foi apresentado de modo preciso, ganhando ainda mais força pelo uso do termo ”obscenos” (que também explicita a opinião da autora).


Brazlândia - Observe a relação proposta para o enquadre: do geral para o local; para o “o lugar onde eu vivo” (tema do Concurso).


legitimada -Veja que a argumentação pela exemplificação provoca a análise do leitor não apenas na direção da violência espalhada genericamente pela cidade, mas na comunidade e, especialmente, dentro das famílias da sua cidade. Assim, a aluna-autora evidencia a urgência de um posicionamento de todas as pessoas (inclusive, das próprias mulheres, colegas de escola), com vistas à revisão de ações que negam – pela naturalização - e legitimam a violência.


social - Agora, já na reta final do texto, a aluna-autora reproduz a tese apresentada no início do texto para não apenas reafirmá-la, mas ampliá-la, diante da diversidade e densidade dos argumentos.
Essa retomada assertiva abre caminho para a apresentação de ações propositivas (orientação típica de exames, como o ENEM), capazes de redimensionar a realidade.



Aluna: Ana K. A.  A. Professora: Mayssara. Escola: CED 03 de Brazlândia – Brasília (DF)

3- Atividades de pesquisa:
Agora que você conhece um pouco mais sobre o artigo de opinião, pesquise um artigo num jornal impresso ou digital e preencha a tabela abaixo. Você pode "recortar", aumentar e imprimir:


















(Imagem: Revista Nova Escola)



 
4- Leitura conceitual:

Afinal, o que é um artigo de opinião?

    O gênero artigo de opinião, é um texto predominantemente argumentativo que circula principalmente em jornais ou revistas (impressos ou eletrônicos). O objetivo desse tipo de texto é convencer alguém a respeito de um tema polêmico e de relevância social. Ele difere-se, por exemplo, do editorial, pois este retrata um ponto de vista e/ou reflexão do editor como representante do jornal/revista, já o artigo reflete a ideia/opinião do próprio autor.

    É um texto assinado que apresenta assinatura/identificação/autoria de quem escreveu, normalmente acompanhada da fotografia do autor. Além disso, há informações do autor a respeito de suas qualificações pessoais como a formação acadêmica e atuação profissional, as quais são importantes para dar credibilidade ao texto e ajudam a convencer o leitor sobre um dado ponto de vista a respeito de um assunto mostrando que a pessoa que está escrevendo tem certo entendimento a respeito do tema.
 (Definição: Revista Nova Escola)

 Referências

 https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3264/o-que-e-um-artigo-de-opiniao
https://www.escrevendoofuturo.org.br/